sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Titica

Chamada: meu choro a quem me ensinou a sorrir.

Não consigo contar o tanto de vezes que já ouvi que nunca devemos deixar os problemas dessa vida nos impedir de dar um sorriso. Devo confessar que sempre considerei isso uma apologia à mentira, à falsidade: por quê fingir estar bem quando não se está? Por quê segurar as lágrimas quando o momento te pede choro?
Com o tempo fui percebendo que há um limite nessa transparência de sentimentos, que às vezes é egoísmo demais obrigar os outros a dividir um momento de tristeza que é só seu, e que a pessoa com a qual devemos ser claro sobre o que sentimos somos nós mesmos, pois assim saberemos mostrar nosso choro àqueles que estão dispostos e preparados a ouví-lo.
Só que esses dias aprendi um outro sentido desse sorrir sempre e que, ao contrário da “falsidade” do primeiro, é baseado na mais pura sinceridade, o que o torna infinitamente mais belo.
Aconteceu quando fui visitar minha vó no hospital. Em seus oitenta e seis anos era sua primeira internação; de maneira que nós, apesar de sua idade, não estávamos ainda assimilando a ideia de que ela, nossa vozinha, sempre tão forte, sempre tão vó, estivesse mesmo num hospital internada.
Talvez por isso todos que entravvam para vê-la saíam com os olhos mareados procurando refúgio... E comigo não foi diferente. E nem precisaria ser tão sensível como sou para se acabar com a imagem de alguém que você ama quase irreconhecível num leito hospitalar, aparelho de respiração meio caído perto da boca e... Chega.
Só consegui dizer: “vó? Está me ouvindo?”, mas a falta de resposta só fez do momento algo ainda mais insuportável.
Já ia voltando para trás, sair correndo dalí para nunca mais voltar, quando meu tio fala firme em seu ouvido: “é a Rosiani que tá aqui”
E agora vocês vão entender o porquê da digressão e talvez me perdoar pela descrição da cena, porque o que aconteceu em seguida foi que seu olho esquerdo se abriu, juntamente a um sorriso gostoso. E a pequena conversa depois disso entrou para história. Nossa história.
É claro que ela estava mal. É claro que eu estava mal por vê-la mal. É claro que ela via em meu olhar assustado o reflexo de seu estado e isso nos deixava mal.Só que o caso é que, apesar de tudo isso, a sinceridade de seu sorriso ao ver alguém que a ama e que ela ama, juntamente a tantos outros alguéns que também ali estiveram, e que também a amam e que ela também ama... tudo isso me mostrou o que realmente importa nessa vida: sorrir sinceramente enquanto ainda houver vida e, quando possível (ou quando impossível) ter a capacidade de se sentir feliz com o brilho de ouro de um sorriso ante a opacidade insensível de tantas máquinas.
PS: Eu não ousei revisar nada e nem mesmo pedirei desculpa por nenhum erro ortográfico fútil.
PS²: Esse texto foi escrito dia 01.02.2011, às 00:30; sendo que mais tarde, neste mesmo dia, às 19:55, minha avó faleceu.
PS³: Preciso dizer que essa homenagem é pra senhora, vó?